sexta-feira, 15 de julho de 2011

O hino do nosso querido profº Renato

Preso nessa cela
De ossos, carne e sangue,
Dando ordens a quem não sabe,
Obedecendo a quem tem,
Só espero a hora,
Nem que o mundo estanque,
Pra me aproveitar do conforto,
De não ser mais ninguém.

Eu vou virar a própria mesa,
Quero uivar numa nova alcatéia,
Vou meter um "Marlon Brando" nas idéias,
E sair por aí,
Pra ser Jesus numa moto,
Che guevara dos acostamentos,
Bob dylan numa antiga foto,
Cassius clay antes dos tratamentos,
John Lennon de outras estradas,
Easy rider, dúvida e eclipse,
São tomé das letras apagadas,
E arcanjo gabriel sem apocalipse.

Nada no passado,
Tudo no futuro,
Espalhando o que já está morto,
Pro que é vivo crescer,
Sob a luz da lua,
Mesmo com sol claro,
Não importa o preço que eu pague,
O meu negócio é viver,
Sob a luz da lua...
Mesmo com sol claro...
Preso nesta cela...

sábado, 4 de junho de 2011

Tudo Outra Vez

Mais uma grande música de Belchior. Lançada na década de 1970, Tudo Outra Vez mostra a questão do brasileiro que deixa sua terra por motivos políticos em uma época conturbada, mas também, pela sobrevivência e busca de uma vida melhor.

Tudo Outra Vez

Há tempo, muito tempo
Que eu estou
Longe de casa
E nessas ilhas
Cheias de distância
O meu blusão de couro
Se estragou

Ouvi dizer num papo
Da rapaziada
Que aquele amigo
Que embarcou comigo
Cheio de esperança e fé
Já se mandou

Sentado à beira do caminho
Prá pedir carona
Tenho falado
À mulher companheira
Quem sabe lá no trópico
A vida esteja a mil...

E um cara
Que transava à noite
No Danúbio "azul"
Me disse que faz sol
Na América do Sul
E nossas irmãs nos esperam
No coração do Brasil...

Minha rede branca
Meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde
Que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade"
Como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar...

Gente de minha rua
Como eu andei distante
Quando eu desapareci
Ela arranjou um amante
Minha normalista linda
Ainda sou estudante
Da vida que eu quero dar...

Até parece que foi ontem
Minha mocidade
Com diploma de sofrer
De outra Universidade
Minha fala nordestina
Quero esquecer o francês...

E vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, humor das praças
Cheias de pessoas
Agora eu quero tudo
Tudo outra vez...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Olha censura ai gentee!!


Como ja disse em algumas postagens anteriores, o governo estuda criar uma agencia reguladora de comunicação, mas como se regula a livre expressão?
É meio dificil de entender, mas para eles deve fazer algum sentido. Abaixo segue um texto publicado por Andreza Matais, no uol.


O governo já tem pronto um parecer no qual afirma ser possível, sem mudar a Constituição, transferir do Ministério das Comunicações para uma agência reguladora o poder de dar concessões de rádio e TV.

O documento ao qual a Folha teve acesso foi elaborado pelo Ministério das Comunicações e aprovado pelo ministro Paulo Bernardo na semana passada. Ele dá contornos práticos a uma das propostas debatidas no projeto do governo de um novo marco regulatório para a mídia digital.
Uma das versões dessa proposta prevê a criação da Agência Nacional de Comunicação que ficaria com as atribuições que hoje são de responsabilidade do ministério de dar e renovar concessão, permissão e autorização de rádio e TV.

De acordo com o parecer do governo, a Constituição não atribui à administração direta (no caso o Ministério das Comunicações) a competência pelas concessões, dizendo apenas que é uma prerrogativa do Executivo "podendo, em tese, ser exercida pela administração direta ou indireta (onde se enquadram as agências), a critério do legislador".

"Nessa linha, caso o Congresso (...) considere adequado transferir a uma entidade da administração indireta, tal qual uma agência reguladora, a competência de outorgar serviço de radiodifusão, certamente a lei, nesse aspecto, não poderia ser considerada inconstitucional", diz texto do governo.
A conclusão do parecer facilita a aprovação de um projeto de lei no Congresso já que toda proposta que altera a Constituição precisa de um número maior de votos para ser aprovada.

Como muitos parlamentares são donos de TVs e rádios, o governo trabalha com a possibilidade de eles resistirem a uma mudança de transferir o poder de concessão do Ministério das Comunicações para uma agência que, na teoria, teria menos influência política.

Hoje já existe uma agência reguladora apenas para o setor de telecomunicações, a Anatel. O setor de radiodifusão está concentrado no Ministério das Comunicações.

Com relação a criação de uma nova agência reguladora para o setor de radiodifusão, uma vez que a Anatel tem outro foco, o parecer diz: "Não há vedação na Constituição para a criação de uma entidade reguladora dos serviços de radiodifusão".

O entendimento atual que consta no parecer sobre a quem cabe dar concessões, outorgas e autorizações a rádios e TVs se choca com a Lei Geral de Comunicação, que prevê que só a pasta poderia ter tais poderes.

O Ministério das Comunicações, em gestões anteriores, também já havia se manifestado da mesma forma que a lei.

(*) Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0502201110.htm




É isso ae bichão, se nada cai do céu, olho atento e faro fino.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Pablo Neruda - España en el corazón

Pablo Neruda, um dos maiores escritores de língua castelhana do século XX, Nobel de Literatura em 1971, nasceu em Parral, no Chile, em 12 de julho de 1904. Faleceu em 23 de setembro de 1973, em Santiago do Chile.
Publicado em 1936, ano em que estoura a Guerra Civil Espanhola, o poema España en el corazón, mostra o horror e a destruição no país dividido em diversas regiões. Neruda, que nessa mesma época era consul do Chile em Madri, foi destituído do cargo. Nesse mesmo ano , Neruda também perdera muitos amigos na Guerra Civil, entre eles, o grande poeta e escritor espanhol Garcia Lorca. No poema, Neruda conta como era a pacata e alegre vida em um bairro de Madri, e como, de repente, tudo isso se transformou. Uma ótima ilustração, embora com uma boa dose de lirísmo, de um intelectual que vivera a Guerra Civil.


ESPAÑA EN EL CORAZÓN

Perguntareis: e onde estão os lilases?
E a metafísica coberta de papoulas?
E a chuva que frequentemente batia
nas suas palavras enchendo-as
de buracos e pássaros?

Vou contar-vos tudo o que se passa comigo

Eu vivia num bairro de Madri
com sinos,
com relógios, com árvores.

Dali se via
o rosto seco de Castela
como um oceano de couro.

Minha casa era chamada
a casa das flores, porque por todas as partes
estalavam gerânios:
era uma bela casa
com cães e crianças.
Raul te lembras?
Lembras-te Rafael?
Frederico, te lembras
debaixo da terra,
te lembras da minha casa com sacadas onde
a luz de junho afogava flores na tua boca?
Irmão, irmão!
Tudo
eram grandes vozes, sal de mercadorias,
aglomerações de pão palpitante,
mercados do meu bairro de Argüelles com a sua estátua
como um tinteiro pálido entre as bebedeiras.
O azeite enchia as colheres,
um profundo bater
de pés e mãos enchia as ruas,
metros, litros, essência
aguda da vida,
peixes empilhados, contextura de tetos com sol frio no qual
a flecha se cansa,
delirante marfim fino de batatas,
tomates repetidos até o mar.

E em uma manhã tudo estava ardendo
e uma manhã as fogueiras
saíam da terra
devorando seres,
e desde então fogo,
pólvora desde então,
e desde então sangue.
Bandidos com aviões e com mouros
bandidos com anéis e duquesas,
bandidos com frades negros abençoando
vinham pelo céu para matar crianças,
e pelas ruas o sangue das crianças
corria simplesmente, como sangue de crianças.

Chacais que o chacal rechaçaria,
pedras que o cardo seco morderia cuspindo,
víboras  que as víboras odiariam!

Diante de vós vi o sangue
de Espanha se levantar
para vos afogar numa só onda
de orgulho e de punhais!

Generais traidores:
olhai a minha casa morta,
olhai a Espanha arrebentada,
mas de cada casa morta sai metal ardendo
em vez de flores,
mas de cada buraco de Espanha
sai Espanha,
mas de cada criança morta sai um fuzil com olhos,
mas de cada crime nascem balas
que vos encontrarão um dia o lugar
do coração.

Perguntareis por que a sua poesia
não nos fala do sonhos, das folhas,
das grandes montanhas de sua terra natal?

Vinde ver o sangue pelas ruas!
Vinde ver o sangue de Espanha!

Vinde ver o sangue pelas ruas!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eva Cassidy-Eva By Heart (1997)


Eva Cassidy foi uma cantora folk que teve seus flertes com jazz, R&B e pop.Lançando discos desde 1992, este seria seu terceiro porém o primeiro gravado integralmente em estúdio.

Eva nunca conseguiu fechar contrato com gravadoras por sempre ter recusado a se limitar a um único estilo musical, o que fica bastante perceptível em "Eva By Heart" que inicia com um folk dedilhado no melhor estilo Joni Mitchell passando pelo blues em "Time is a Healer" e um gravação inesperada de "Wade in the Water", tradicional música gospel afro-americana tendo seu primeiro lançamento em 1901 sendo cantada até hoje por vários artistas diferentes como Patty Griffin e Bob Dylan.O disco ainda conta com outros clássicos do blues e soul americano.

O disco infelizmente foi lançado postumamente, Eva Cassidy seria vítima de um câncer devastador que a matara aos 33 anos.Em Setembro/96, usando muletas para chegar até o palco, fez sua última apresentação para amigos e admiradores cantando 'What A Wonderful World'.Em resenha sobre o lançamento de seu álbum American Tune, de 2003, o jornal inglês Daily Telegraph se referiu a ela como protagonista da "mais memorável carreira póstuma na história da música pop".Rótulos à parte, Eva Cassidy é altamente recomendável pra qualquer um que goste de música.

1. "I Know You by Heart" (Eve Nelson, Diane Scanlon) – 3:57
2. "Time Is a Healer" (Scanlon, Greg Smith) – 4:14
3. "Wayfaring Stranger" (Traditional) – 4:26
4. "Wade in the Water" (Traditional) – 4:00
5. "Blues in the Night" (Harold Arlen, Johnny Mercer) – 4:05
6. "Songbird" (Christine McVie) – 3:41
7. "Need Your Love So Bad" (Mertis John Jr.) – 4:361
8. "Say Goodbye" (Steven M. Digman, Andrew Hernandez) – 3:55
9. "Nightbird" (Doug Macleod) – 5:27
10. "Waly, Waly" (Traditional) – 4:45
11. "How Can I Keep from Singing?" (Traditional) – 4:24

link nos comentários

domingo, 9 de janeiro de 2011

Entrevista Geraldo Vandré (Setembro de 2010)


Recentemente assisti uma entrevista que esta disponível no Youtube com o Geraldo Vandré, que compôs a famosa musica “Pra não dizer que não falei das flores”.

Hoje ele vive no interior de São Paulo e durante muito tempo se desligou da música e hoje trabalha na composição de sua obra em Castelhano.

A entrevista foi dada a rede de TV a cabo Globo News, e foi bastante impactante porque desconstrói toda a imagem que temos dele, de um homem militante e indignado com a condição que o Brasil se encontrava.

Ele revela na entrevista que não fez sua música mais famosa como “protesto”, e sim que fez como musica brasileira, e usando uma camisa da Força Aérea (a entrevista foi feita em uma instalação militar) faz uma critica sutil aos tropicalistas, onde segundo ele a partir deste movimento a cultura no Brasil se tornou massificada, shows eram feitos para 700, no Maximo 1200 pessoas passaram a ser feitos para 30 mil 40 mil em estádios, e de maneira delicada diz que a mídia contribui para este processo.

Com uma barba mediana e cabelos grisalhos se mostra bastante amargurado no tom de sua fala, talvez pelo desconforto da entrevista ou talvez fosse à imagem que ele queria passar.

Como disse acima, ele estava usando uma camisa da Força Aérea, e deu a entrevista em uma instalação militar, se isto foi pensado para passar algum tipo de mensagem indireta, já que sua musica tomou tamanha proporção na luta contra a ditadura, nunca saberemos.

Recomendo que dêem uma olhada na entrevista, que esta dividida em 4 partes no youtube, e tem aproximadamente uma hora de duração, onde ele fala de vários assuntos alem destes aqui apontados, basta procurar na busca pelo nome de “Globo News entrevista Geraldo Vandré”

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fotografia 3x4

A música composta por Belchior na década de 70 mostra o drama da migração do norte para o sudeste do Brasil, principalmente do Nordeste para São Paulo. A letra aponta os receios, anseios, sonhos, problemas e a realidade que o migrante recém-chegado enfrentava.
Deixo apenas essa pequena análise, de soslaio mesmo, pois essa canção estrondosa possibilita infindáveis formas de compreensão, crítica social e relação com o vivido. E aos futuros professores de história, com essa letra poderíamos dar uma aula inteira sobre migração!!!


Fotografia 3x4

Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei
Jovem que desce do norte pra cidade grande
Os pés cansados e feridos de andar légua tirana...
E lágrimas nos olhos de ler o Pessoa e de ver o verde da cana...
Em cada esquina que eu passava um guarda me parava,
Pedia os meus documentos e depois sorria,
Examinando o 3x4 da fotografia
E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha.
Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade,
Disso Newton já sabia, cai no sul grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana...
Copacabana, zona norte e os cabares da Lapa onde eu morei
Mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar
Que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar,
Mas a mulher, a mulher que eu amei não pode me seguir não
Esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem...
Veloso o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
E pela dor eu descobri o poder da alegria
E a certeza de que tenho coisas novas
Coisas novas pra dizer
A minha história é talvez... É talvez igual a tua,
Jovem que desceu do norte e que no sul viveu na rua
E que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
E que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
E que ficou apaixonado e violento como você
Eu sou como você...
Eu sou como você...
Eu sou como você...
Que me ouve agora
Eu sou como você... como você...