terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Os jovens da minha geração, ávidos pela vida, esqueceram de corpo e alma as ilusões do porvir, até que a realidade ensinou a eles que o futuro não era do jeito que sonhavam, e descobriram a nostalgia. E lá estavam minhas crônicas, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e se deram conta de que elas não eram para velhos, mas para jovens que não tiveram medo de envelhecer..."
                
Gabriel García Márquez In Memórias de minhas putas tristes

Joni Mitchell - Blue (1971)

Apesar de não ser muito falada aqui no Brasil, a cantora e poetisa Roberta Joan Anderson, mais conhecida como Joni Mitchell é certamente um dos maiores expoentes da música canadense junto com Rush e Neil Young além de ser referência inegável dentro do folk, tendo feito grande sucesso com seus três primeiros discos (convidada inclusive pra tocar no Woodstock, convite que teve de recusar por conta de problemas pessoais) e se consolidando com "Blue", o melhor de sua carreira.

Como o próprio nome já indica, tata-se de um álbum depressivo, culminado do fim de um relacionamento longo, ainda assim, "Blue" é excelente de se ouvir a qualquer hora.É o mais belo e sincero folk flertando constantemente com o jazz, não é a toa que Mitchell mais tarde trabalharia com Herbie Hancock, um dos maiores nomes do estilo.

Hoje o álbum é premiadíssimo, tendo entrado em diversas listas de melhores álbuns de todos os tempos de revistas como Time e Rolling Stone, sendo que nessa última, a lista foi de 500 álbuns com "Blue" na 30º posição.No começo dos anos 90 a última música deste petardo ganhou uma versão do Legião Urbana no Acústico MTV.Recomendadíssimo a qualquer amante da boa música.

1-All I Want
2-My Old Man
3-Little Green
4-Carey
5-Blue
6-California
7-This Flight Tonight
8-River
9-A Case of you
10-The Last Time I Saw Richard

Link p/ download nos comentários


domingo, 21 de novembro de 2010

Pra não dizer que não falei das flores.

O post do meu amigo Daniel, sobre a bela musica do Chico Buarque sobre a revolução dos cravos, me lembrou a bela musica de Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei das flores”, que virou de certa forma, um símbolo contra a ditadura militar brasileira.

Esta musica, ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, (perdendo o titulo para a musica “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque), foi proibida durante anos pela ditadura militar brasileira, que julgava a musica ofensiva ao governo, principalmente nos versos:


Há soldados armados, amados ou não.
Quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição.
De morrer pela pátria e viver sem razão.    


Imagina a raiva dos militares ao ouvir esta musica não?

A primeira artista que interpretou a canção após o período que ela esteve censurada, foi Simone, em 1979.

O duplo sentido no titulo da um ar de ironia na musica, pois ele não falaria apenas da situação social que vivia o Brasil, mas alem disso tudo, falaria das flores, uma forma sutil de alfinetar a censura da liberdade de expressão vivida no Brasil.

Com rimas fáceis, de fácil memorização, ela era cantada nas ruas, quase que virando um  hino, conhecido atualmente no país todo, e transformado pelo povo brasileiro em um símbolo de luta contra a ditadura.


Letra Completa:

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantado e seguindo a canção

REFRÃO

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer (2x)

Pelos campos a fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

REFRÃO

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer (2x)

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão

REFRÃO

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer (2x)

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

REFRÃO

Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer (3x)


Autor: João Misael

sábado, 20 de novembro de 2010

"Tanto Mar", uma saudação de Chico Buarque à Revolução dos Cravos

Constextualização Histórica

É abril, dia 25. O ano, 1974. Estudantes e militares tomam as ruas de Lisboa... É o fim da longo ditadura salazarista, ou de um facismo à portuguesa. Não se sabe ao certo o porquê da escolha do cravo como símbolo da revolução, mas isso pouco importa. Nesse dia, estudantes, mulheres e crianças ofereciam as rosas aos militares, que as colocavam nos canos de suas armas. Mas enquanto Portugal era sacudido pelo ideal revolucionário, o Brasil ainda vivia a ditaura militar, sob o comando do general Ernesto Geisel.

A composição original

A letra original de "Tanto Mar" foi censurada pelo governo brasileiro. Nela, Chico Buarque escreve no presente, mostrando que a ideia de revolução está acontecendo. Chico se refere à uma festa, a Revolução dos Cravos. No fim da música, Chico termina com alguém no Brasil pedindo urgentemente um pouco do cheiro do alecrim (especiaria e símbolo dos descobrimentos portugueses no Oriente) por exalar um aroma agradável, para ajudá-lo a respirar melhor na dificil situação que seu país se encontra. O governo brasileiro proibi a canção, com medo de que a mesma pudesse instigar um movimento revolucionário aqui, influenciado pelos ideais lusitanos.

Letra original:

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Um cheirinho da alecrim

A versão permitida

A versão da música permitida foi lançada após 1975, ano em que um golpe militar pôs fim ao PREC (Processo Revolucionário em Curso) em Portugal. A Revolução agonizava... Era o fim de abril em Portugal...
Nessa versão, Chico muda o objetivo inicial. A música nos mostra uma espécie de conversa travada entre um português no Brasil e um português em Portugal. Com um caráter nostálgico, trata a revolução como acontecimento passado, distante, agora apenas na memória. Mostra a saudade do português de sua terra, de sua gente. Mas mesmo assim, Chico Buarque consegue deixar expresso alguma esperança nos últimos versos.
O sonho continuaria vivo...
Letra da versão permitida:

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

Autor: Daniel Arnoni

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Filme: Je Vous Salue, Marie - Ano: 1984 / Dir. Jean-Luc Godard - França

No filme Je Vous Salue, Marie, lançado em 1984, o diretor Jean-Luc Godard reconstrói a história da Virgem Maria nos tempos modernos. O filme tem como objetivo principal tentar apontar o dilema no qual viveria Maria nos dias de hoje. Na produção, Maria é uma jovem estudante, que trabalha no posto de gasolina de seu pai, e namora José, um taxista. O anjo Gabriel, nada parecido com o da história original, é um homem comum e impaciente, que vem anunciar à Maria sua missão. Maria, uma jovem virgem, ao ficar grávida, provoca a desconfiança em José, que intrínseco à mentalidade de seu tempo, não consegue aceitar tal ideia. Maria encontra-se sozinha para enfrentar o seu destino em meio à indiferença e o ceticismo que caracterizam o mundo moderno, tendo que lidar com sua vida na condição de pessoa comum e com a sua missão de gerar o filho de Deus. Godard, ao atualizar o acontecimento, procura recolocar a problemática da mensagem cristã no mundo de hoje.
Ao longo da película, Maria trava um diálogo consigo mesma, uma luta psicológica com sua crenças e a relação do corpo e espírito. Durante a gestação, Maria tem dificuldades de se encontrar. Por vezes, aceita sua missão. Em outras, com um sentimento de revolta, critica as ações divinas, travando uma espécie de discussão com Deus.
Maria acaba por "aceitar" sua missão, gerando a criança. José fica ao seu lado, mas em conflito com o menino. Na última parte do filme, e a mais intrigante, Maria reencontra por acaso  o anjo Gabriel. Ao avistá-la, o anjo profere as palavras: "Je vous salue, Marie" (Eu vos saúdo, Maria), e vai embora dirigindo um automóvel. Num breve instante, Maria relembra sua missão. Porém, percebe que essa não cabe mais ao seu mundo, à sua época. Entra no carro, acende um cigarro e se maquia. Maria, nesse intante, volta a ser uma mulher como as outras. Rejeita a condição que lhe foi oferecida. Não haverá assim uma Virgem Maria, e sim uma mulher comum que se juntou à materialidade do mundo.
Suas últimas palavras são: "Eu sou algo de virgem, mas não queria esse ser. Apenas dei meu corpo para a alma que me salvou, E isso é tudo". Com isso, Maria não nega a sacralidade de sua missão, mas deixa claro que foi apenas um canal para ligar o divino ao mundano, ou seja, gerar aquele que, na fé cristã, salvou a humanidade. Foi como devolver um favor, sem dele tirar nenhum proveito.




Autor: Daniel Arnoni


Apresentação

Caros leitores.

Estamos iniciando este blog para que possamos compartilhar nossas idéias e críticas, e principalmente, com bastante transparência.

Nosso corpo de autores ainda esta sendo formada, é uma ideia que já vem surgindo há algum tempo, e que finalmente colocamos em prática.

Esperamos que as futuras leituras sejam prazerosas para todos!


Atenciosamente.
Preguiças.