É abril, dia 25. O ano, 1974. Estudantes e militares tomam as ruas de Lisboa... É o fim da longo ditadura salazarista, ou de um facismo à portuguesa. Não se sabe ao certo o porquê da escolha do cravo como símbolo da revolução, mas isso pouco importa. Nesse dia, estudantes, mulheres e crianças ofereciam as rosas aos militares, que as colocavam nos canos de suas armas. Mas enquanto Portugal era sacudido pelo ideal revolucionário, o Brasil ainda vivia a ditaura militar, sob o comando do general Ernesto Geisel.
A composição original
A letra original de "Tanto Mar" foi censurada pelo governo brasileiro. Nela, Chico Buarque escreve no presente, mostrando que a ideia de revolução está acontecendo. Chico se refere à uma festa, a Revolução dos Cravos. No fim da música, Chico termina com alguém no Brasil pedindo urgentemente um pouco do cheiro do alecrim (especiaria e símbolo dos descobrimentos portugueses no Oriente) por exalar um aroma agradável, para ajudá-lo a respirar melhor na dificil situação que seu país se encontra. O governo brasileiro proibi a canção, com medo de que a mesma pudesse instigar um movimento revolucionário aqui, influenciado pelos ideais lusitanos.
Letra original:
Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Um cheirinho da alecrim
A versão permitida
A versão da música permitida foi lançada após 1975, ano em que um golpe militar pôs fim ao PREC (Processo Revolucionário em Curso) em Portugal. A Revolução agonizava... Era o fim de abril em Portugal...
Nessa versão, Chico muda o objetivo inicial. A música nos mostra uma espécie de conversa travada entre um português no Brasil e um português em Portugal. Com um caráter nostálgico, trata a revolução como acontecimento passado, distante, agora apenas na memória. Mostra a saudade do português de sua terra, de sua gente. Mas mesmo assim, Chico Buarque consegue deixar expresso alguma esperança nos últimos versos.
O sonho continuaria vivo...
Letra da versão permitida:
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Autor: Daniel Arnoni
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