No filme Je Vous Salue, Marie, lançado em 1984, o diretor Jean-Luc Godard reconstrói a história da Virgem Maria nos tempos modernos. O filme tem como objetivo principal tentar apontar o dilema no qual viveria Maria nos dias de hoje. Na produção, Maria é uma jovem estudante, que trabalha no posto de gasolina de seu pai, e namora José, um taxista. O anjo Gabriel, nada parecido com o da história original, é um homem comum e impaciente, que vem anunciar à Maria sua missão. Maria, uma jovem virgem, ao ficar grávida, provoca a desconfiança em José, que intrínseco à mentalidade de seu tempo, não consegue aceitar tal ideia. Maria encontra-se sozinha para enfrentar o seu destino em meio à indiferença e o ceticismo que caracterizam o mundo moderno, tendo que lidar com sua vida na condição de pessoa comum e com a sua missão de gerar o filho de Deus. Godard, ao atualizar o acontecimento, procura recolocar a problemática da mensagem cristã no mundo de hoje.
Ao longo da película, Maria trava um diálogo consigo mesma, uma luta psicológica com sua crenças e a relação do corpo e espírito. Durante a gestação, Maria tem dificuldades de se encontrar. Por vezes, aceita sua missão. Em outras, com um sentimento de revolta, critica as ações divinas, travando uma espécie de discussão com Deus.
Maria acaba por "aceitar" sua missão, gerando a criança. José fica ao seu lado, mas em conflito com o menino. Na última parte do filme, e a mais intrigante, Maria reencontra por acaso o anjo Gabriel. Ao avistá-la, o anjo profere as palavras: "Je vous salue, Marie" (Eu vos saúdo, Maria), e vai embora dirigindo um automóvel. Num breve instante, Maria relembra sua missão. Porém, percebe que essa não cabe mais ao seu mundo, à sua época. Entra no carro, acende um cigarro e se maquia. Maria, nesse intante, volta a ser uma mulher como as outras. Rejeita a condição que lhe foi oferecida. Não haverá assim uma Virgem Maria, e sim uma mulher comum que se juntou à materialidade do mundo.
Suas últimas palavras são: "Eu sou algo de virgem, mas não queria esse ser. Apenas dei meu corpo para a alma que me salvou, E isso é tudo". Com isso, Maria não nega a sacralidade de sua missão, mas deixa claro que foi apenas um canal para ligar o divino ao mundano, ou seja, gerar aquele que, na fé cristã, salvou a humanidade. Foi como devolver um favor, sem dele tirar nenhum proveito.
Autor: Daniel Arnoni
Massa esse filme! Sem duvida bastante polemico... Vou procurar assisti-lo.
ResponderExcluirJoão Misael